A história do Futebol Mundial inclui muitos episódios emocionantes e comovedores, mas seguramente nenhum seja tão terrível como o protagonizado pelos jogadores do Dínamo de Kiev nos anos 40. Os jogadores jogaram um jogo sabendo que se ganhassem seriam assassinadose, decidiram ganhar! Na morte deram uma lição de coragem, de vida e honra, que não encontra, por seu dramatismo, outro caso similar no mundo.
Tudo começou em Setembro de 1941, quando a cidade de Kiev (capital ucraniana) foi ocupada pelo exército nazi, e os homens de Hitler aplicaram um regime de castigo impiedoso e arrasaram com tudo. A cidade converteu-se num inferno controlado pelos nazis com muitos prisioneiros de guerra que não tinham permissão para trabalhar nem viver nas casas, assim todos vagavam pelas ruas na mais absoluta indigência. Entre eles estava Trusevich que tinha sido avançado do Dinamo.
Josef Kordik, um padeiro a quem os nazis não perseguiam por ser alemão, era fã do Dinamo e um dia quando caminhava pelas ruas, surpreso olhou para um mendigo e logo viu que era o seu idolo, o gigante Trusevich.
Apesar de ser ilegal, mediante artimanhas, o comerciante alemão enganou os nazis e contratou Trusevich para trabalhar na sua padaria. Queria ajudá-lo e este agradeceu o gesto e a possibilidade de comer e dormir debaixo de um tecto, enquanto que o padeiro alemão emocionava-se por ter feito amizade com o seu idolo.
Na convivência, as conversas giravam em torno do futebol e do Dínamo, até que o padeiro teve uma idéia genial, pediu a Trusevich para em vez de amassar pães, fosse procurar os seus colegas de equipa, que ele lhe continuava a pagar e ajudava a salvar os outros jogadores.
O avançado assim fez e procurou pela cidade inteira entre os feridos e os mendigos e foi encontrando um a um, os seus colegas e até encontrou alguns adversários do campeonato soviético que levou também com ele. Enquanto isto o padeiro Kordik deu trabalho a todos e escondia toda esta jogada para que ninguém se apercebesse e em poucas semanas já tinha na padaria toda uma equipa.
Depois de reunidos pelo padeiro, os jogadores não demoraram muito em dar o próximo passo, e decidiram apoiados pelo seu protector, voltar a jogar. Era a unica coisa que sabiam fazer bem e era a forma de ultrapassar todas as dificuldades, já que alguns tinham perdido toda a sua familia.
Como o Dinamo estava fechado e proibido, criaram um novo nome e assim nasceu o F.C. Start que através de contactos alemães começou a desafiar equipas de soldados inimigos e selecções formadas na ditadura alemã.
Em julho de 1942 jogaram o seu primeiro jogo e apesar de estarem esfomeados e cansados de trabalhar, ganharam por 7-2. Depois veio uma equipa hungara e também ganharam por 6-2, seguindo-se uns romenos aos quais ganharam por 11-0, até que enfrentaram uma equipa do exército alemão e ganharam por 6-2.
Muitos nazis começaram a ficar chateados pela crescente fama de "um grupo de padeiros" e resolveram trazer da Hungria a equipa do MSG para os derrotar, mas também ganharam por 5-1.
Em agosto desse ano, convencidos da sua superioridade, os alemães prepararam uma equipa, o Flakelf que era a melhor da altura e era utilizada como propaganda de Hitler, para vencer o F.C. Start que já tinha muita popularidade entre o povo refém, mas qual a grande surpresa quando apesar da violência e da falta de desportivismo dos alemães, a equipa do F.C. Start conseguiu vencer por 5-1.
Depois dessa escandalosa derrota da equipa de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro Kordik e chegou de Berlim a ordem para acabar com todos eles. Mas os hierarcas nazis locais não se contentaram e não queriam que a ultima imagem dos russos fosse uma vitoria, ficando para sempre na historia a derrota alemã e por isso acreditando que os alemães eram o melhores atletas e que lhes podiam vencer, resolveram marcar um jogo de vingança para o dia 9 de Agosto, com um clima tremendo de pressão e ameaças por todas as partes.
O Estádio Zenit estava cheio e antes do jogo, um oficial nazi entrou no balneário e disse que ia ser o juiz do jogo, para eles respeitarem as regras e saudarem com o braço esticado, mas já no campo os jogadores do F.C. Start equipados de camisola vermelha e calções brancos, levantaram o braço mas no momento da saudação levaram a mão ao peito e em vez de gritarem: - "Heil Hitler!", gritaram - "Fizculthura!", uma expressão soviética que proclamava a cultura física.
Os alemães, de camisola branca e calção preto marcaram primeiro mas o F.C. Start chegou ao intervalo a ganhar 2-1.
Ao intervalo foram novamente visitados por oficiais nazis e desta vez as ordens eram claras: - "Se vocês ganharem, não sai daqui ninguém vivo".
Os jogadores ficaram com muito medo e até pensaram em não voltar, mas lembraram-se das suas familias, nos crimes cometidos e em todos os que ali estavam sofrendo e a apoiá-los e decidiram jogar.
Na segunda parte deram um verdadeiro baile aos alemães e já perto do final quando ganhavam por 5-3, o avançado Klimenko isolado, finta o guarda redes deixando-o no chão e quando todos esperavam o golo, ele em cima da linha virou-se para trás e chutou para o meio campo, num gesto de desprezo e de superioridade total. Foi a loucura no estádio, e a alegria imperava em toda a gente.
Os nazis nesse dia não fizeram nada e deixaram toda a gente sair do estádio, mas o destino já estava traçado e apesar da equipa do F.C. Start ter ainda jogado mais um jogo e goleado o Rukh por 8-0, nessa noite a Gestapo visitou a padaria e começou pelo padeiro Kordik, troturando-o em frente a todos os outros. Depois a poucos e poucos foram matando os outros e alguns até morreram com a camisola do F.C. Start vestida.
Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos até a libertação de Kiev em novembro de 1943. O resto da equipe foi torturada até a morte.
Ainda hoje, quem assistiu áquele jogo tem direito a bilhete gratuito no estádio do Dinamo Kiev.
Na Ucrânia, os jogadores do F.C. Start hoje são heróis da Pátria e o seu exemplo de coragem é ensinado nas escolas.
No estádio Zenit uma placa diz "Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada perante o invasor nazista".
Esta é a história do dramático "Jogo da Morte". O realizador John Huston inspirou-se neste facto real para rodar o seu filme "Fuga para a vitória" em 1982 que contou com grandes nomes do cinema como Michael Caine, Sylvester Stallone e Max Von Sydow e grandes futebolistas como Bobby Moore, Osvaldo Ardiles, Kazimierz Deyna e Pelé. No filme John Huston fez o que o destino não conseguiu: salvar os heróis!
Feliz Natal e bom Ano de 2025
Há 4 semanas
2 comentários:
Uma história arrepiante e um exemplo vivo da intolerância humana...
Infelizmente o mundo está cheio no passado e no presente de barbaridades do ser humano
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